quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Equações sentimentais de grau indeterminado


Amo-te e desejo-te
Mas se te desejasse alcançar-te-ia no patamar do amor?
Se te amo e te desejo,
então desejo amar-te
ou amo desejar-te?
Poder-te-ei amar sem te desejar?
Sei que te posso desejar sem te amar,
mas não sei se é suficiente para ti.
Posso desejar amar-te, se já te desejo tanto?
Posso mesmo amar desejar-te sem nunca te ter.
Será que te quero mesmo amar,
ou é um pretexto para experimentar um prazer sem igual?
Posso desejar querer amar-te, mas isso não é forçar?
Quero amar-te?Não, soa mal.
Desejo-te tanto que me atrevo a dizer que te amo,
mas se estiver enganado no amor, não estou certamente no desejo.
Umas vezes desejo-te, outras...amo-te.
Muitas vezes, nem uma nem outra.
Mas sei que te desejo e te amo,
ou será que é ao contrário?
Sei, convictamente, que te quero!


domingo, 17 de dezembro de 2017

Se assim fosse ou a imprevisibilidade dos ventos



Diz-me que sim
Não penses
Deixa-te levar pelo momento
Deixa falar o sentimento
E diz-me que sim
Pendura-te em mim e deixa-te ir
Dá-me esse sorriso rasgado
Rasga o preconceito guardado
E diz-me que sim
Atreve-te a ir sem rumo
A sentir no limite
A soltar as emoções
Colhendo as sensações
Arrisca-te a ir
E diz-me apenas: sim


A Emoção do Vento Latino


Lança-me um olhar
Um fio ténue de ternura
Um sorriso a despertar
Um sopro de frescura
Dar-te-ei um suspiro
Um abraço sentido
Um braço contido
Um mundo invertido
Outra forma de estar
Todas as ondas do mar
O meu olhar

E a brisa a convidar
Vem, vamos voar


sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Retrato a tinta da china



Planta sombras em noites de lua cheia
E colecciona mágoas entre folhas de livros
Transforma monólogos em conversas ao espelho
E discursa em travessas empedradas cheias de ninguém
Ansiosamente procura a solidão
Raramente tem o prazer de a encontrar
A paz é uma palavra muito curta
Para ser mantida
E a liberdade só chega no fim
Perdeu o mapa do amor num jogo de póquer
E rega esquinas em noites bastardas
Não tem norte, não tem rumo
Não cultiva o aprumo
Não é ninguém e ninguém tem
Atreve-se a pensar que é alguém
Mas apenas quando lhe convém
Fala no gume fino de uma navalha romba
(Herança do tempo vivido)
Tem-se a si e pouco mais
Diz-se muito bem servido
Ele, um fado, um copo de vinho e um trompete desalinhado.




Do efeito colorido do pó


Amo-te hoje porque amanhã não existe
E preciso sentir-te como as flores precisam do orvalho da manhã
O teu aroma é como o cheiro húmido da terra
Fértil, ávido de vida e de calor
Amo-te sem to saber expressar
Trôpego na ansiedade de te sentir
Carente dessas mãos presas nas minhas mãos
Até que o dia chegue ao fim
Porque amanhã não existe
Amo-te e, nesta ânsia de te ter
Esqueço a fome, esqueço o ar
Só preciso saciar a sede insana no teu olhar
Num sorriso, numa lágrima, num esgar de desdém
Amo-te hoje e para além da morte
Porque esta existe e amanhã é uma incógnita
(E o pêndulo não pára)





sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O compasso do tempo



Penso nas horas
Passo a passo
No passo descompassado da vida
No compasso dos ponteiros
Num círculo vidrado ao olhar
Vejo o tempo a passar
O mecanismo perfeito
Onde a tempo me acerto
É a medida desta vida
Contada a cada momento
No tic tac repetido
Agitado num piscar
Num movimento perpétuo
Sentido até nas desoras
No ritmo lento das demoras
Na pressa dos desencontros
No pressuposto da certeza
Que perpétuo é o tempo
Que não a vida que o sente