domingo, 20 de novembro de 2016

Memórias Andaluzas


Era um jardim, junto a um rio, um velho rio afogando-se no mar, pejado de pequenas ilhotas, vivendo ao ritmo das marés.
Era o verão nesse jardim, um calor escaldante de terras do sul, terras onde outrora se falava árabe. E o cheiro intenso do jasmim, plantado e crescido nesse jardim, junto ao velho e preguiçoso rio à sorte das marés.
Havia um livro numa esplanada coberta por um toldo enorme e osgas caçando nas paredes de uma ruína.
E o livro contava uma história quente como as tardes desse sul outrora árabe e intensa como a transpiração desse jasmim plantado no jardim.
Havia o ruído do silêncio quente que se espraiava no ar e o rio afagando as margens em maré alta.
E sombras apanhando moluscos na baixa maré de que se despia esse rio velho e cansado.
Ao longe, na outra margem, muros de tijolos amarelecidos, ameias meio caídas, esqueleto de outras poses, um castelo. Não sei se as paredes falaram árabe, mas decerto viram envelhecer esse rio preguiçoso, a quem as marés coçam o leito arenoso, em tarde quentes e silenciosas.
Havia um livro, uma esplanada, um silêncio fino, um rio brando e um castelo decrépito.
Havia paz e um aroma intenso a jasmim que me perfuma a memória.