sábado, 28 de maio de 2022

666

 

Porque te permites viver a metade do todo que és?

Porque te divides entre a razão e o sentimento

Sabendo que quem perde é o desejo?

Porque te acomodas à estrada que te indicaram

Sabendo que tantas outras há por onde caminhar?

Vejo-te ave de uma só asa;

Saltitas de parapeito em parapeito

Num ensejo imenso de levantar voo e voar

Porque te permites limitar para além do que já te limitam?

Para uns a “segurança” vale mais que a liberdade,

Que o livre arbítrio

Alimentam-se da vã esperança de haver sempre mais um dia,

Mais um dia para mudar, um dia mais onde arriscar

E assim se enganam os sentidos, assim se escraviza a voz da pele

E se caminha seguro pelo caminho comodamente indicado

Na dessegurança de uma vida segura

Até que não haja mais um dia

Nem mais um dia para gastar

E no obituário alguém escreverá: “Era uma excelente pessoa”

Mas perdeu o ensejo de sentir o prazer transcendente

De quem muda de caminho e se atreve a voar.