Com
um pedaço de carvão e meia dúzia de riscos, esbocei a rua onde cresci. Agora
que o tempo mo permite, recordo-a nos contornos apressados do traço e
apercebo-me de que era particularmente bonita nas noites de nevoeiro, em
inícios de Dezembro, quando o Inverno descia das montanhas, frio como navalhas.
As
pessoas eram sombras, os plátanos eram sombras e as sombras, sombras eram de si
mesmas.
Eram
noites de mistério e emoção; noites de negro cinza e, lá ao fundo, o cemitério
com as suas altas paredes e o seu portão de ferro forjado, dominava imponente,
ladeado por dois ciprestes.
Nevoeiro
vivo em farrapos pegajosos que se ria dos vultos.
E
tudo era possível naqueles tempos em que uma calma silenciosa dominava essas
noites
E
era tão bom vaguear por entre as sombras.
E
a lua ria velada naquela meia dúzia de traços a carvão.