quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Breve nota sobre as esquinas da vida



Desde que viraste a esquina da minha vida, não mais cheirei o teu cheiro, não mais ouvi a tua voz, não mais olhei directo nos teus olhos.
Desde esse dia recorro à memória de imagens, sons e cheiros para te recordar; é a única forma de saciar este vício que adquiri de ti.
Um dia essas memórias passam do prazo, a minha mente não irá conseguir mais retê-las e tu deixarás de existir na minha vida, tal como não existias antes de te teres cruzado comigo da primeira vez em que senti o teu cheiro, ouvi a tua voz, apreciei os teus olhos.
Como acontece na ressaca de um vício, sentirei a falta de algo, uma necessidade de qualquer coisa que não conseguirei identificar, até que essa falta deixe de faltar.
As esquinas da vida são sorvedouros de pessoas, de sentidos e de memórias; elas levam-me os olhos que conseguem marejar os meus.


 

Here, there and everywhere


Eram arco-iris fazendo pontes entre os telhados das casas em forma de girassois. Eram duas mãos entrelaçadas voando em céus de um azul celestial, saltando em saltos de rã por entre as estrelas,roubando-lhes dentinhos de diamante sempre que se sorriam para nós.
E, de repente, a face oculta da lua ficou bem de frente para o futuro.
E este chegou mais cedo e com ele ficámos sentadinhos, bem abraçados, a ver as estrelas desdentadas, muitos anos depois, cabelos bem prateados e os mesmos olhares de crianças traquinas que iriam dominar o mundo.
As asas, recolhidas, mantêm-se no seu lugar e tudo foi bonito, por todo o lado.
E foi assim que aconteceu, sem tirar nem pôr.