terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Da louca sedução

 

Por vezes, ao fim da tarde, naqueles momentos em que o sol já baixo no horizonte, nos presenteia com uma luz difusa e mágica, eu acredito ouvir os seus passos breves e ligeiros no corredor. E uma fragância fresca frutada, como a que usava, aflora-me as narinas. São breves instantes de breve loucura, momentos de ilusão que me permitem manter um certo equilíbrio emocional, em particular quando a bendita solidão me ataca de mansinho e me embala no seu canto irresistível.

É terrivelmente cativante a solidão, apenas suplantada pela tristeza.

Esta última seduz-nos, envolve-nos, apodera-se da nossa vontade e alimenta-se das nossas fraquezas.

Por isso essa breve ilusão de a sentir, tanto tempo depois, sempre que a luz obliquamente breve do sol brinca no meu soalho, é um escudo que me protege da solidão e da tristeza por instantes, embora eu, infalivelmente me volte a render a ambas e a adormecer nos seus braços a cada noite.