segunda-feira, 24 de abril de 2023

No fundo de mim

 

Quantas vezes não passeei

Por vielas escuras e fétidas

Ventos de bolor, escorrendo nas paredes

Vielas de pedra húmida, pedra imunda

Agarrado a um cigarro

Cambaleando etilizado

Perdido numa procura insana

Ou tão só perdido de razão

Quantas quedas, quanta lama

Tanto desnorte roçado no salitre

Da podridão onde me atolei

Quando hoje recordo o que passei

Ou melhor, aquilo a que me forcei

Estremeço só de pensar

Em voltar a percorrer essas sujas vielas

Essas podres vias emocionais

Perfeitos desequilíbrios comportamentais

Labirintos de emoção

Ligando cérebro e coração




sexta-feira, 21 de abril de 2023

A certeza do talvez

 

Não sei quando te encontrarei,

Nem sei se alguma vez te encontrarei

Não mesmo sei onde existes

Mas sei que te espero

 

Vives nesta melancolia

Que me prende a nada o olhar 

Neste respirar suspirado

Que me deixa vazio de ar

 

Sinto-te em cada Estação

Na brisa suave dos fins de tarde

Sinto-te na espuma das ondas

Que me banham os pés

 

Não sei onde estás

Não te vejo, não te oiço

Apenas sei que te sinto

Algures neste mundo

 

E espero, no ar que respiro

No horizonte que observo

Na esperança que me move

Espero o momento do encontro

 

O momento em que todas as palavras me serão vedadas

Em que perderei a compostura

E idiotamente ficarei especado

Olhar bem fixo em ti

Olhos destilando o tanto que te quero

E o quanto te esperei

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Hoje gostaria de ser um cavalo selvagem, galopando numa imensa pradaria 





quarta-feira, 5 de abril de 2023

O princípio da dor

 

Não!

Não quero deslizar os dedos no contorno dos teus lábios

Não quero descobrir os sulcos dos teus olhos

Nem provar o teu sabor

Não quero pegar-te pelas mãos

E rodopiar contigo ao som de uma musica qualquer


Mas cometi o erro de te sentir o cheiro

De bailar nos teus lábios

De saborear-te as palavras

Que debitavas pelos olhos

 

Não, repito para mim

Não voltas a deslumbrar-te

Não vais permitir-te sentir

Não voltarás a envolver-te

 

Em vão

 

Porque é sempre assim o princípio da dor

Quando a realidade nos atinge

A magia termina de repente

E o mundo, de súbito, sabe a fel

E vem o desatino da recordação

E a certeza de que aquela dança de olhares,

Não voltará a acontecer


E na ressaca da dor

escutas na tua mente:

Não, não voltas, 

não irás permitir-te, 

não mais sentirás