terça-feira, 29 de agosto de 2017

"Gone" ou de como acabar com o medo



Quando desaparecer
acender-se-à uma vela num canto escuro de uma janela
Haverá uma fotografia antiga, desbotada pela humidade olhada
Uma mão dirá adeus ao sentimento quebrado
Um cão uivará à lua após ter mijado num candeeiro
Uma prostituta entediada virar-se-à de lado na cama alugada, em silêncio
Alguém sufocará um soluço
Alguém matará um beijo à nascença
Alguém sorrirá de tristeza, clandestinamente
Os homens do lixo farão o habitual ruido nocturno
e um gato queixar-se-à da presa perdida
Um homem atravessará a pé a rua, de regresso a casa;
roupa desalinhada, hálito etílico
Uma mulher simulará de novo um orgasmo
Um bébé chorará pelo peito materno
E alguém dirá em silêncio - saudade
soprada sobre a chama de uma vela  que,
no canto escuro de uma janela,
sufoca um soluço de vento
e imagina uma silhueta afastando-se
no céu nocturno