sexta-feira, 19 de maio de 2023

Do fim e da gralha


A gralha, pousada no muro de pedra rachada

Observa curiosa e atenta

O manto escuro, ao fim da tarde

Deitado de lado sobre as costas encurvadas

Agitando-se ao vento

Andando depressa

Coberto de negro, quase de noite

Sob o olhar atento da gralha

Acima das pedras do muro rachado

Que o musgo do tempo mantém de pé

E escuro vai encurvado, sem se saber para onde,

Na negra noite primaveril

O vento sopra de rajada

E da gralha nem rasto.

E da vida nem som

Curvado sobre o abismo,

Manto ao vento, bandeira negra

Réstia de nada

Lá bem longe

Onde já nada existe 

Excepto a gralha