sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O sorriso

 

Ela veio suave, instalou-se na minha vida

E deu-me carinho,

Deu-me o prazer do amor

Deu-me também um sorriso.

O mais belo e rasgado sorriso alguma vez pintado

Foi um tempo que parece agora ter sido um momento

Um tempo de dar, um tempo de partilhar

Também me deu um motivo, trouxe com ela uma razão

E tudo se encaixava na perfeição

Ela partiu de repente

Sem um motivo, sem explicação

Deixou-me um vazio, um frio gélido

Um tempo por acabar, como se fora uma ilusão

Mas deixou-me o sorriso

Esse sorriso rasgado, jamais pintado

E uma insaciável solidão



segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Devagar

Sente a vibração no ar

É outubro, é outono

Sente a flor a mudar de cor,

Devagar

É tempo de sentir o tempo a passar

A flor murcha,

Devagar

A vida flui pelo ar

O dia arrefece,

O mar enfurece

É o tempo que muda

É a vida a vibrar

Sente-o no ar

Antes que o inverno venha

A folha vai acabar por cair,

Devagar

Em rodopios suaves,

Numa dança sem vida

Num tempo que murcha,

Sem o sentir definhar

A noite insinua-se,

Devagar

O escuro conquista

As frias paredes desta casa a tombar,

Lentamente

Sei que assim é,

Da vida e da morte

De perder e amar

E se amar é perder…

Devagar, muito devagar

A luz do farol,

Lá longe

Já não protege,

Nem mesmo aconchega

O coração cansado

Que bate,

Que ainda bate

Bem devagar

Esperando, qual Outono,

O inverno chegar

Com a brisa húmida do mar