terça-feira, 30 de outubro de 2018

Eternamente Novembro



E eis que novembro bate à porta e diz a outubro para fazer o balanço do seu ano porque tem apenas um dia para deixar o espaço livre. Amanhã outubro morre por um ano e novembro – há sempre um novembro e é sempre estranho – chega, choroso, mas apenas por 30 dias.
O frio veio primeiro; o frio acha-se o porteiro.
Novembro é triste, é escuro e frio, é húmido e melancólico. É o mês viela do purgatório.
É quando apetece ouvir músicas suaves da juventude com a companhia desejada, enrolados num cobertor bem quentinho.
E por falar na companhia desejada, não sei de ti, por onde caminham teus passos, quem te leva agora a passear, pendurada nos seus ombros e sem deixar que as mãos descolem uma da outra, olhando para cima com esses olhos arqueados, essa boca fantástica, rasgada num imenso sorriso de felicidade.
Quem te bebe o sorriso por estes dias? Quem te leva a passear à chuva nestes dias cinzentos, para os outros, mas solarengos para ti?
Eis que novembro bate à porta e eu fico do lado de dentro da vidraça, olhando ao longe duas silhuetas familiares, unidas por um laço de paixão, encaixadas entre duas linhas de água que escorrem pelo vidro.
Novembro desorganiza-me as memórias, desequilibra-me os sentidos, traz-me esperanças vãs e rouba-me o calor do talvez: talvez, quem sabe, talvez ainda seja possível passear-te à chuva, numa tarde de novembro, com o teu sorriso enamorado como guarda-chuva e o desejo transformado em sol de verão.
Desconfio que vai chover, uma vez mais, amanhã.