quarta-feira, 5 de julho de 2017

Do efeito do sal iodado



Sentado na areia húmida da praia, as pequenas ondas brincam em frentes dos meus olhos. Sente-se uma brisa morna e os salpicos de água acalmam a pele queimada.
Cheira a iodo; caramba, desde que tenho recordações, este cheiro está sempre presente.
Com os dedos puxo lentamente o cabelo molhado para trás enquanto o sol apaga as últimas gotas de água na pele.
É uma tarde tranquila nesta praia silenciosa e os pés fervem na fina areia.
Ela iria gostar. Estou a divagar; eu iria gostar de saber que ela iria gostar de estar aqui deitada ao meu lado, partilhando a areia escaldante, a brisa morna, a água refrescante e o silêncio tranquilizante.
Passaram-se semanas e dela tenho apenas a imagem e a distância. Onde estará? Em que pensará? Será que está neste momento a partilhar, sem o sabermos, o mesmo pensamento? E se estiver, sentirá o calor que emana da areia, a frescura da pele molhada, a brisa suave que acaricia o cabelo e o cheiro iodado do mar? Terá ela guardado a minha silhueta num local seguro e acessível?
Demasiados pensamentos em formato interrogativo nesta tarde quente de verão, numa qualquer praia algures na costa, sob um forte cheiro iodado de décadas.
Por onde caminharão os seus pensamentos? Colidirão com os meus sentimentos?
Levanto-me, dirijo-me à beira mar e mergulho neste manto transparente.
Uma sensação de frio percorre-me agradavelmente a pele e quebra-me o fio do pensamento.
Não sei se é o fluxo do vento, o sentido da corrente ou a silhueta feminina que me deixa à deriva.
Sei que cheira intensamente a iodo e a sal.