sábado, 6 de junho de 2015

Tempo suspenso

Esta noite eram três
O ponteiro dos minutos avariado
E eu acordado
Juntando pedaços dispersos de conversas
Retalhos de imagens
E restos de memórias
Lá colei uma história,
Que rasguei
Pelas quatro e pouco
Mas os poucos minutos
Eram os das três
Madrugadas agarradas a farrapos dispersos
Numa nuvem de pó
Que se deve ter dissipado pelas cinco
Já não recordo, mas aposto
Que os poucos minutos eram os das três
Talvez


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Amanheceres ou dores de crescimento

Há quem amanheça nos braços de quem lhe entregou o corpo
E quem amanheça no sabor amargo de uma cama meia vazia, ou como se o estivesse.
Há quem amanheça sem saber que todos os dias tal acontece
Há-os que apenas anoitecem
E os que nada sabem da dança dos astros.

Metamorfoses


Metamorfoses são ampulhetas armadas em relógios digitais
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Não se trata de ti, nem tão pouco dos sussurros que julgas teus.
O sol não nasce por ti e o nevoeiro não desce sempre que precisas de passar despercebido.
Mostras-te altivo, alheio, seguro.
Pensas transmitir uma leveza rochosa.
Mas escondes-te sob o manto sedoso das penas que criaste.
Insensível à sensibilidade que promoves,
Plantas árvores de plástico e escreves frases desconexas
Alinhas por linhas desalinhadas, as linhas que alinhadamente constróis
E és uma sombra desbotada do teu reflexo esbatido nas gotas de chuva
Não! Não se trata de ti o choro de quem sofre
Nem o sorriso de quem gosta
Não se arredonda o calhau rolado só porque lhe admiras a forma
E não se criam silêncios porque gostas de os regar.
Nunca chegas tarde nem cedo, aliás nem sempre chegas
Mesmo quando, convencido, dizes ter chegado.
E, decididamente, nem sempre trata de ti o que de ti de facto se trata.