Na viela suja alguém pintou um anjo na parede. De fácies africana, tem as mãos no rosto numa expressão de sofrimento ou desespero. Olho com atenção o belíssimo desenho e verifico que tem uma asa cortada.
Sentado por baixo da imagem um sem-abrigo. Esfarrapado, segura na mão direita uma garrafa de vinho e mantém uma discussão com a sua mente. Terá um alter-ego ou é da bebida? Na esquina, posição aparentemente provocadora, uma prostituta procura aliciar um passante.
Esta parte da cidade não se encontra nos cartões postais, nem na publicidade feita para atrair os turistas.
Esta é a parte da cidade onde me perco por horas; percorro as estreitas ruas sempre húmidas. Curiosamente as outras ruas, as que são percorridas pelas pessoas “decentes” da cidade, não têm humidade e estão sempre pintadas.
Já me tenho perguntado se as ruas esquecidas choram o abandono, se não sentirão, sofridamente, o desdém de quem passa por engano ou apenas para atalhar caminho. Se sentem saudades doridas dos tempos em que eram novas, pintadas e iluminadas. Será a humidade sempre presente nestas velhas e sujas ruas fruto do seu desespero?
Sentirão as paredes o desprezo de quem por elas passa?
As ruas e vielas que percorro nos meus momentos de introspecção, são sujas, tristes e húmidas. Assim como os meus pensamentos! Por isso as procuro; procuro uma paisagem onde possa mimetizar o estado de espírito; é uma terapia, um cerimonial, uma insanidade inócua, um vazio desesperado por ser preenchido.
O anjo detalhadamente pintado na parede persegue-me; sinto como minha a sua expressão de perda, o seu desespero, a mutilação.
Revejo-lhe a face tapada pelas mãos de um realismo impressionante e parece-me ter notado algo brilhante parecido com uma gota de água escorrendo por baixo de uma das suas mãos. Teria sido ilusão de óptica, um preciosismo do artista ou o choro da velha parede?
Sentado por baixo da imagem um sem-abrigo. Esfarrapado, segura na mão direita uma garrafa de vinho e mantém uma discussão com a sua mente. Terá um alter-ego ou é da bebida? Na esquina, posição aparentemente provocadora, uma prostituta procura aliciar um passante.
Esta parte da cidade não se encontra nos cartões postais, nem na publicidade feita para atrair os turistas.
Esta é a parte da cidade onde me perco por horas; percorro as estreitas ruas sempre húmidas. Curiosamente as outras ruas, as que são percorridas pelas pessoas “decentes” da cidade, não têm humidade e estão sempre pintadas.
Já me tenho perguntado se as ruas esquecidas choram o abandono, se não sentirão, sofridamente, o desdém de quem passa por engano ou apenas para atalhar caminho. Se sentem saudades doridas dos tempos em que eram novas, pintadas e iluminadas. Será a humidade sempre presente nestas velhas e sujas ruas fruto do seu desespero?
Sentirão as paredes o desprezo de quem por elas passa?
As ruas e vielas que percorro nos meus momentos de introspecção, são sujas, tristes e húmidas. Assim como os meus pensamentos! Por isso as procuro; procuro uma paisagem onde possa mimetizar o estado de espírito; é uma terapia, um cerimonial, uma insanidade inócua, um vazio desesperado por ser preenchido.
O anjo detalhadamente pintado na parede persegue-me; sinto como minha a sua expressão de perda, o seu desespero, a mutilação.
Revejo-lhe a face tapada pelas mãos de um realismo impressionante e parece-me ter notado algo brilhante parecido com uma gota de água escorrendo por baixo de uma das suas mãos. Teria sido ilusão de óptica, um preciosismo do artista ou o choro da velha parede?