quinta-feira, 29 de junho de 2017

O círculo quebrado


A inocência termina com o travo da injustiça
Segue-se a percepção da morte
A ideia expande, a visão aclara e intimida
O conceito queima, inquieta, intranquiliza
A morte ganha vida, torna-se palpável.
De repente nasce a paixão
Esta trás consigo o desejo
Tudo se confunde e surge o amor
Ama-se e deseja-se, deseja-se e ama-se,
Deseja-se sem amar e quer-se ter e desejar ainda mais
Irrompe a posse e tudo se agrava
A posse é ciumenta, intolerante, agressiva, desconfiada
É um cavalo sem freios, um touro enraivecido, um tornado.
E o ser humano completa-se
O Diabo dança e Deus rejubila
Subitamente a morte aparece, abraça e estabelece o caminho
O ciclo fecha-se com um amargo sabor de injustiça (a vida soube a pouco)
O ciclo fecha-se, mas não na inocência em que começou
Coloca-se o morto no meio de uma sala
Com rendas e flores e um lenço na cara
Junta-se a família, os amigos e os conhecidos
Juntam-se, também, os que passam por lá
Curiosos por ver quem já não está
Comenta-se o defunto: uma perfeição agora que está morto
Veste-se o preto, o azul e o cinzento
Vestem-se lágrimas e esgares de dor
Passeia-se o dito até ao jardim
Atira-se ao solo e cobre-se por fim.
Fecha-se o ciclo, vamos a outro
Haja mais partos, casamentos e mortos