Cruzando ruas sem destino,
andando apenas, sem norte,
observo quem por mim passa,
num jogo de itinerância errática,
como quem foge da morte.
Sinto a pressa dos atrasados,
os sinais corporais dos namorados,
que em lenta passada cruzam mãos,
e lambem sofregamente a emoção.
E sinto o deslevo dos sem abrigo
pelos seus sacos de estimação.
Sinto dor e presunção,
incompreendidos de ocasião,
e gente cheia de solidão.
Sinto o gato e o cão,
no cheiro a mijo no chão.
Encosto-me à árvore no passeio,
faço-o não sei porquê,
queimando cigarros, dormente,
porque neste vazio de tanta gente,
quem se cruza já não se vê.
Frágeis são os fios da teia de que te teces