Cruzando ruas sem destino,
andando apenas, sem norte,
observo quem por mim passa,
num jogo de itinerância errática,
como quem foge da morte.
Sinto a pressa dos atrasados,
os sinais corporais dos namorados,
que em lenta passada cruzam mãos,
e lambem sofregamente a emoção.
E sinto o deslevo dos sem abrigo
pelos seus sacos de estimação.
Sinto dor e presunção,
incompreendidos de ocasião,
e gente cheia de solidão.
Sinto o gato e o cão,
no cheiro a mijo no chão.
Encosto-me à árvore no passeio,
faço-o não sei porquê,
queimando cigarros, dormente,
porque neste vazio de tanta gente,
quem se cruza já não se vê.
Frágeis são os fios da teia de que te teces
Os fios das teias são frágeis por natureza.
ResponderEliminarEste poema está forte, intenso, e encerra alguma dor interior, mas acima de tudo está excelentemente desenhado e transmitido.
Gosto muito de te ler neste registo.
Agora a vida também tem perspectivas naturalmente distorcidas, e o poder de encaixe para lidar com essa realidade, chega a rasgar-nos as entranhas.
Hoje estou assim, para o azedo...
Beijo