sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Baixas são as marés da bendita solidão





É na areia húmida de uma baixa-mar tranquila, em fim de tarde vazia, que me sinto.
Gaivotas banham-se ruidosamente num charco que a maré cheia esqueceu de resgatar. O sol força o horizonte num laranja amarelado. Passeio na interface molhada sem destino; a pequena ondulação acaricia-me os pés.
Não sei se alguma vez pisaste esta areia molhada, num fim de tarde de sol cansado de luzir por um dia; não sei sequer se alguma vez pisaste a areia desta praia com o olhar.
Não deixo de te sentir a mão, esse odor quente casando com o cheiro do iodo salgado.
Não sei onde estás neste preciso momento em que a água tranquila brinca a meus pés.

Sei que te sinto aqui, agora, neste local onde as gaivotas se lavam, onde a praia está vazia e o mar é o teu corpo enrolado no meu.


1 comentário:

  1. :) que bonito!
    O mar que te banhou os pés passou primeiro pelo corpo dela antes de chegar até ti.
    Beijo

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