É na areia húmida de uma baixa-mar tranquila, em fim de
tarde vazia, que me sinto.
Gaivotas banham-se ruidosamente num charco que a maré cheia
esqueceu de resgatar. O sol força o horizonte num laranja amarelado. Passeio na
interface molhada sem destino; a pequena ondulação acaricia-me os pés.
Não sei se alguma vez pisaste esta areia molhada, num fim de
tarde de sol cansado de luzir por um dia; não sei sequer se alguma vez pisaste
a areia desta praia com o olhar.
Não deixo de te sentir a mão, esse odor quente casando com o
cheiro do iodo salgado.
Não sei onde estás neste preciso momento em que a água
tranquila brinca a meus pés.
Sei que te sinto aqui, agora, neste local onde as gaivotas
se lavam, onde a praia está vazia e o mar é o teu corpo enrolado no meu.