sábado, 26 de agosto de 2017

Forma difusa



De repente pressenti um vulto na janela;
um perfil bem conhecido.
Fixei o olhar e nada vi,nada se fixava por detrás do vidro.
Foi a vista que me traiu, pensei
porque esse vulto há muito que o não via à janela.
Um vulto que era um rosto,
um rosto que a janela me abria
e por vezes se escondia, sorrindo
fazendo me a janela abrir para o encontrar.
Mesmo não tendo ouvido o sorriso,
tive o instinto de me dirigir à janela e procurar.
Mas contive-me. Porque esse perfil de rosto desenhado
num sorriso bonito e deslavado
desapareceu por si na brisa do seu querer.
E marinheiro não volto a ser
para me largar no desejo, sem leme nem vela a preceito
abrindo janelas de vento sem jeito,
e me afogar sem nada ver.
Se miragem não foi, voltará
e na janela se fixará e dessa vez baterá.
Se se quiser dar a ver,
virá




Amnésia



Com um pedaço de grafite
e de olhos bem fechados,
esbocei-te os traços da cara.
A preto te refiz na memória do papel
De olhos bem fechados mirei a criação
Eras tu, tal como te vi
da primeira vez que nos desencontrámos,
por sinal no unico encontro que marcámos.
De olhos bem fechados, arranjei te uma moldura
e recriei um prego com dois traços.
Pendurei te na parede, mesmo em frente da janela rasgada
para que ficasses luminosa.
Agora sento-me à tua frente,
num ritual diário
e recordo com deleite a primeira vez que te não vi.