segunda-feira, 4 de maio de 2020






Lá, onde o mar desagua nas falésias abruptas, e a costa é recortada por pequenas enseadas escondidas do vento, atapetadas de areia mais escura e calhau rolado.
Lá, onde o mar é mais iodado e os rochedos são finas lâminas de xisto.
Lá, onde os prados fogem ao olhar, as colinas são suaves e preguiçosas e as ervas têm cheiro de condimento.
Lá, onde as pessoas são brandas e o tempo se mede pelas rugas, onde as casas são térreas e brancas, com finos recortes de azul ou amarelo. 
É lá que me refugio sempre que posso, onde me dispo do que pareço ser, onde me perco num horizonte só meu e respiro a paz que poucas vezes alcanço.
No meu cantinho quase selvagem, onde tudo parece ter sido feito à minha medida, a noite é feita de estrelas e a lua é mais conversadeira.
Naquela costa primitiva, bem juntinho à cadeia montanhosa, tudo o que me rodeia é fragmento de mim e, por vezes, em dias de sorte, consigo cheirar a felicidade.