sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O poder do som e da letra

 



Quando oiço esta música, que adoro, pergunto-me sempre: -A qual delas se refere ele?

Se fosse dirigido a mim confesso que não saberia a que casa voltar. É que ao longo da nossa vida mudamos tantas vezes de casa e em cada uma deixamos uma mala de nós. Um ente querido morre e a nossa casa imediatamente muda e uma mala se perde; um amigo desaparece e a casa muda de novo e mais uma mala ficou para tras; um amor que acaba, que esmorece ou que arrefece e a casa muda e uma montanha de malas...
Um filho que sai, um animal de estimação que falece.
Voltar para onde? Já vivi em tanto lado e por causa disso quantas vezes não morri? Quantas malas de mim eu perdi?
Há apenas uma casa a que poderei regressar e um dia assim farei, porque assim terá de ser. E acredito que lá estarão, bem arrumadinhas por ordem cronológica, todas as malas que deixei em cada casa que perdi.
Enquanto esse dia não chega, não me canso de ouvir os One Republic interpretar esta música.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Da fragilidade de ser

 

Abraça-me com força,

Segura-me, não permitas que caia

E nesse abraço protector

Empresta-me um pouco do teu calor

Porque me sinto vazio

E um pouco de carinho

Pode alentar-me o caminho

Que ainda tenho de percorrer

Olha-me, olha-me nos olhos

Como quem olha alguém

E nesse olhar dá-me a esperança

De voltar a ter um ideal

E, se não for abusar muito,

Peço que me dês a mão

E que a força desse aperto

Me faça sentir um homem novamente

E quando por fim te afastares

Deixa para trás o teu perfume.

Apenas um pouco desse perfume

Para que por mais uns momentos

Nele me possa a embriagar.




Esse Jardim

 

Senta-te e observa bem quieta

Como a tarde cedo anoitece

E a temperatura do ar arrefece

Devagar, ao ritmo do tempo

 

Não fales, escuta o ruido do teu silêncio

Ou como as folhas coloridas se agitam

Ao som da brisa outonal

 

Escolhe um jardim e um banco

Esconde-te à vista de quem passa

Torna-te um elemento da paisagem

Fecha os olhos e sente

 

Sente o tempo a passar,

As horas a contar

(ao ritmo a que só as horam sabem contar)

E deixa-te ficar até a noite cerrar

E o escuro te abraçar

 

Algo está algures a findar

Não temas, é apenas a vida a cumprir-se

E nessa escuridão tardia

Aconchega a tua cabeça

Sossega o teu coração

E deixa-te estar

 

Há um dia por chegar

Há uma noite por ficar




sábado, 17 de setembro de 2022

Se ao menos existisse o tal se

 

Há quem diga que há seres destinados a cruzar-se o número de vidas necessárias para que se cumpra o desígnio que lhes está destinado.

Eu acredito que só se vive uma vez, e cada escolha é única e irrepetível. O que não se partilhar nesta vida, nunca voltará a ser possível.

Felizes dos que acreditam…

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Não sei recriar o passado

Não posso corrigir situações

Posso, sim, sentir como seria

Se recriado fosse o momento

De que hoje me lamento

Tantos anos depois

Há quem fale em destino

No tal fado fadado

Numa força maior

Eu simplesmente acredito

Que há escolhas na vida

Que se fazem uma vez

E não se colocam depois

E é este o mistério,

A graça, a especiaria

Que torna tão especial cada vida

Nunca sabermos como seria

Se em vez de um não saísse um sim,

Ou se o olhar fosse para ti

E não para algo mais além.

Não quero recriar o passado

Tenho comigo as emoções

E as imagens que marcaram

Tudo o mais são ilusões



terça-feira, 13 de setembro de 2022

Cinzento escuro

 

Penso no pouco que me resta

Do tanto em que me dividi

Tão pouco,

tão espalhado

Sombra de um pecado

Sendo pouco sou nada

Nada sendo do que pareço ser

Uma mentira no espelho

Uma solução de continuidade

Algo que não sabe o que é

Não importa se é fragmento

Se o todo não é


Penso no fragmento

Tão pouco, 

tão espelhado

Na mentira que criei

De cada vez em que me dividi

Em algo,

Numa sombra

No nada 

No quanto resta de mim