quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Talvez


Life is good
Death is great




Um dia,
talvez um dia,
me atreva a dizer-te que te amo
Quem sabe consiga que as palavras fluam,
facilmente, e te faça rasgar a face num sorriso fremente
Um dia,
quem sabe um dia,
eu te prenda nos meus braços
e te sussurre ao ouvido
que és tu o meu mundo.

Um dia,
sei que um dia,
te farei sentir especial.
Tão única e imperdível
quanto a luz do sol

E temo,
e desconfio, que nesse momento,
te possa irremediavelmente perder...
para sempre


Da perda provocada pelo piscar dos olhos


No intervalo de dois sussurros
Um olhar desviado
Atenção mascarada
Uma sombra fugidia
E um assomo de vida
Assim se inicia o desejo
Não sei quem era, não a vejo
Só sei que me prendeu
Sombra por detrás de um véu
Imagino-lhe mil faces
Sinto-lhe mil contrastes
Não sei o que me deu
(Só sei que me prendeu)
Sinto-lhe o cheiro suspenso no ar
Sigo-lhe o rasto a pairar
Mas não a consigo identificar
Perdi-a no espaço de um olhar


domingo, 20 de novembro de 2016

Memórias Andaluzas


Era um jardim, junto a um rio, um velho rio afogando-se no mar, pejado de pequenas ilhotas, vivendo ao ritmo das marés.
Era o verão nesse jardim, um calor escaldante de terras do sul, terras onde outrora se falava árabe. E o cheiro intenso do jasmim, plantado e crescido nesse jardim, junto ao velho e preguiçoso rio à sorte das marés.
Havia um livro numa esplanada coberta por um toldo enorme e osgas caçando nas paredes de uma ruína.
E o livro contava uma história quente como as tardes desse sul outrora árabe e intensa como a transpiração desse jasmim plantado no jardim.
Havia o ruído do silêncio quente que se espraiava no ar e o rio afagando as margens em maré alta.
E sombras apanhando moluscos na baixa maré de que se despia esse rio velho e cansado.
Ao longe, na outra margem, muros de tijolos amarelecidos, ameias meio caídas, esqueleto de outras poses, um castelo. Não sei se as paredes falaram árabe, mas decerto viram envelhecer esse rio preguiçoso, a quem as marés coçam o leito arenoso, em tarde quentes e silenciosas.
Havia um livro, uma esplanada, um silêncio fino, um rio brando e um castelo decrépito.
Havia paz e um aroma intenso a jasmim que me perfuma a memória.