quarta-feira, 8 de março de 2017

O vinil do amor

Lado A

Sonha.
Sonha um sono infantil, uma aventura sem nexo, mas sonha e no sonho sorri. Foge da realidade, descansa a cabeça na almofada e deseja viver, inconsciente, uma felicidade. E, em sonhos, sorri. Sê feliz, mesmo que seja só a fingir.



LADO B

E gritou, gritou bem alto em silêncio. E chorou uma tempestade de lágrimas desidratadas a dor que, no peito, o quebrava.
Sentiu-se impotente, sentiu-se amputado do seu amor. E desta vez gritou em desespero, um grito horripilante, um uivo de lobo solitário. As chagas da memória abriram e tornaram-se pústulas hediondas.
Das costas, dois fios de sangue, duas asas amassadas; asas de desejo, desejo arrancado pela raiz.
E não quis saber do sol, não sentiu o vento morno, ignorou quem passava; olhos raiados de um frio cortante. Não mais a luz, não mais a cor, apenas o luto derrotado da sua arrogância. E errante se perdeu nas vielas escuras do desnorte.


5 comentários:

  1. Nunca tem sonhos bons? Ou pesadelos menos maus?

    anónima

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  2. Em vez do título desta publicação, ser "o vinil do amor", devia ser, O Fado do Disco Riscado.
    O amor nunca deve ser substituído, pelo sonho. Já por isso desisti de ouvir o disco de vinil.
    A música é excelente, o texto está engendrado com imaginação.

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  3. Sorrisos
    Ocultam
    Lutas

    A música é espectacular.

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