quarta-feira, 17 de maio de 2017

Sobre a sobreposição de 2 espaços no tempo





O ritmo tem de ser coordenado entre os dois planos, em movimentos fluidos, apressurados que não apressados, gravitando em torno do verbo sentir.
Sugere-se começar com um ritmo de valsa lenta, numa curva ascendente, em que o clímax é antecipado por um rufar de tambores.
A acção transita para movimento aceleradamente descontrolado; os planos colapsam no espaço confinado; a horizontalidade perde o sentido.
O som torna-se abstracto, a paisagem desfocada e a força é puro instinto.
Os espaços colam e descolam para lá da razão.

E, depois de recuperar o fôlego...já se fumava!


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Da linha hipnótica da boca


Vejo-te falar e não oiço
Duas linhas carnudas de sangue
desenhadas na maldade da perfeição
Traços de uma sensualidade que me ensurdece
Frágil se torna a luz no teu reflexo
Teus cabelos, ondas revoltas onde meus dedos se afogam
E tu uma praia
Onde as gaivotas esboçam no ar o meu desejo
E a areia a cama onde te quero
Cega é a ausência do teu toque
E negra a distância que nos separa


terça-feira, 2 de maio de 2017

E um belo dia tornas-te analfabeto de ti



Um dia, sem que o saibas, fecharás a penúltima página do teu livro, sem chegar a abrir a última.
Essa não a lerás, não saberás o que lá foi escrito, mas será a mais importante página da tua vida porque é lá que ficará registado o teu legado.
A última página será escrita a várias mãos, em diferentes caligrafias, em formatos emocionais diversos; e será escrita por tempo indeterminado, até que a última memória que de ti houver chegue à penúltima página do seu livro.
Tu, que por tanto tempo, escreveste uma história envolvendo tantos personagens, que sem o saberem, foram por ti ligados numa rede complexa de vivências, não terás a percepção de quando te será escrita a palavra fim.
Quem foste, o que foste para os outros, o que significou a tua vida, só o último dos teus personagens o saberá.
A ironia da situação é que nunca vestirás o fraque para receber o prémio Nobel, por muito bom que venha a revelar-se o teu livro.