segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Teia de Luzes ou Efeito Psicotrópico



Não sei se é do efeito da luz na vidraça, do aroma da erva molhada ou do sussurro do vento no espanta espíritos. Talvez seja apenas uma calma induzida pelos fármacos ou a ilusão do tempo suspenso.
Sinto um sossego incomum, indolor e inebriante.
A aranha continua impávida a tecer a sua teia no bordo do vaso do jasmim.
Um jovem casal passa na rua. Na sua discussão cortam o fio que suspende o tempo interior.
Ele, agressivamente, questiona-a. Ela hesita.
Apetece-me interceder por ela, de tão óbvia e merecida a resposta, no entanto prefiro remendar o fio e voltar a suspender o tempo.
Sentado no sofá imagino um retrato, dessa outra que me entorpece, pendurado na parede branca, mesmo em frente. Pequeno, desenhado a carvão, apanhando-lhe as particularidades tão peculiares do rosto.
Ficava mesmo bem o retrato dela na parede branca, mesmo em frente do sofá.
Lamentavelmente, não quero dispor do tempo suspenso para a desenhar.
Os raios de sol perdem terreno no soalho, ou talvez seja apenas o efeito da luz na vidraça.
A aranha continua a sua interminável dança rendilhada no vaso e eu suspendo as pálpebras no fio da memória.






2 comentários:

  1. Caro HP,

    É a terceira vez que venho ler estas suas palavras. De tantas que por aqui existem, estas, em especial, ficaram-me suspensas (a palavra agora é sua...roubei-lha) na memória.

    "...no entanto prefiro remendar o fio e voltar a suspender o tempo."

    "...e eu suspendo as pálpebras no fio da memória."

    Tão simples! Tão bonito!

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  2. Cara MB se me roubou a palavra ela só voltará a ser minha se ma devolver. Obrigado pelo comentário.

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