Os fios de Sol do
outono penetram através da vidraça. Esta é uma dessas tardes tranquilamente
obtusas em que, comodamente sentado, pensas ideias e pensamentos avulso apenas
por exercício e como forma de esfaqueares lentamente o ritmo ao tempo.
Fútil pensamento
da tarde:
- Se as palavras
utilizadas fossem taxadas individualmente, que consequências teria nos diálogos
e nas relações interpessoais?
Enquanto divagas
sobre o impacto financeiro na comunicação e começas a construir a tabela dos
prós e contras, o teu olhar é desviado para o soalho onde os fios de sol,
refractados pela vidraça, executam uma lenta, caótica e, no entanto, hipnótica
dança nas travessas de madeira.
Quantas palavras
não seriam poupadas, quantos silêncios ganhos tal como a atenção às expressões
faciais tão expressivas?
A luz rodopiou de
novo, desta vez ligeiramente para a esquerda e a sombra de um pequeno pássaro atalhou
o seu voo ao longo da parede.
Se as palavras
fossem taxadas, os olhares seriam bem atentos, as palavras seriam
criteriosamente escolhidas e os charlatões, os “comunicadores” e os fãs
confessos e viciados na sua voz, cuja intenção é apenas terem atenção a todo o
custo ao imenso nada que transmitem ou leram e ouviram nos média, ficariam
deprimidos.
Os pequenos raios
de luz executam agora verdadeiros passos de tango argentino, e eu sinto-me
transportado para uma das muitas salas de tango das ruas e ruelas de Buenos
Aires.
Ah! Buenos Aires
e os restaurantes em Puerto Madero, onde a luz é mais brilhante, a dança mais
fluida e os silêncios mais tranquilos.
Definitivamente
os latinos não iriam gostar de ver as suas longas conversas taxadas, mas sei
que adoram a luz do Sol.
Os pequenos e
frágeis raios de luz outonais transmitiram-me a beleza da dança das partículas luminosas
e ensaiam a ultima dança do dia, aquela que acontece sempre que este lado da
Terra vira as costas ao Sol. E nesta dança de morte lenta neste fim de tarde tranquilamente
obtusa e fútil, declaro que o mundo seria muito melhor se as palavras fossem
taxadas e a grande maioria das pessoas se dedicasse, de boca bem fechada, a
observar a dança das partículas de luz, no soalho de um lugar qualquer.