terça-feira, 3 de março de 2020

Chuva em pétalas doridas



Chuva. 
Som cadenciado, compassado, como militares desfilando muito ao longe.
E de longe se aproxima, vindo de cima e de lado, ser alado.
Chuva, chuva fina, peregrina, cadente, por vezes urgente, outras, persistente.
Fria cai em fiadas, dias de noites amargas, ideias peregrinas, pouco sadias, enlutadas por dores veladas, dores de falta, mascaradas por sorrisos de nada.
Chuva, doida chuva que não poisa, não tem assento, tal como o vento.
Chuva que por vezes acalma, em melodia recortada, filigrana, ouro sacana que não me sacia a alma, essa esponja que retém o que não deve e me não salva, das noites perdidas de chuva, dessa chuva que cheira a malva, memórias de infância e de novo a calma.
Húmida névoa que chora e sobre mim se demora, presença constante, pranto delirante que pede às mãos que me rasguem deste céu ou no ar as erga, olhos no chão, consciência plena da pequenez que me fez.
Chuva, densa chuva, nevoeiro, mau-olhado, formigueiro, que me ecoa aos ouvidos, vindo de dentro, tolhe os sentidos.
Chuva plena que não termina. Não reajo, não resisto, deixo-me ir pelos riachos, já sem tino, desatino, e desaguo na loucura deste som de violino.
Já não sinto, não me consinto, sinto a chuva, não me sinto. 

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