Hoje há um pessimismo agudo, um olhar para dentro, incómodo, amargo. Os
dias que antecedem a morte do Outono normalmente propiciam a autoflagelação
mental.
(Este é um texto outonal)
A perspectiva ambígua do mal e do remorso retratada na sombra. É tudo
derivado do pecado ou do seu conceito, fica impresso na mente, cravado a ferro
em brasa, nos jovens, vitelos de leite, que todos fomos.
Ai os pecados, essa coisa insubstancial com que fomos formatados em criança,
gratuita e altruisticamente por homens vestidos com vestidos, dizendo-se
porta-vozes de um ser maior, de um bem superior, de uma lei suprema e
inquestionável.
Mas os pecado é como o amor: inevitável, traumatizante e apetecível.
As sombras da alma são vermelho sangue
Feridas abertas, disformes
Pústulas do teu lado mais sombrio
Que te acordam tarde na noite
Em revoadas de suores frios
As sombras da alma
São os teus fantasmas de estimação
São aves de rapina pairando
Sobre a tua memória
Avisos do passado, gritados no presente
Alertando-te o futuro, inutilmente
São gritos de dor, cáries da consciência
Assim são essas sombras da alma
Essas dores embaraçantes
Que acompanharão para sempre
O borralho da tua vergonha
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