Na casa dos
meus pais as paredes secaram
Essa foi a
minha casa enquanto eu fui dos meus pais
Havia vida
no chão de madeira; ripas antigas; algumas rangiam até de noite
Mas as
paredes tinham vida
Na casa dos
meus pais as tardes eram soalheiras quando não havia tempestades
Os vizinhos
eram todos amigos, mesmo os que fingiam
E quase
todos fingiam, mas só quando fingiam.
A casa dos
meus pais era grande; para mim era imensa.
Tinha
muitas divisões e escadas, muitos degraus, vários obstáculos.
Hoje a casa
dos meus pais parece-me pequena, embora continue a ter muitas divisões e
degraus.
Já não há
obstáculos dignos desse nome.
E as
paredes, entretanto, secaram mesmo.
Há muito
deixou de haver tempestades, mas as ripas de madeira rangem mais.
Há muitos
sons na casa praticamente vazia
Eu acho que
alguns são ecos doutros tempos.
Em breve a
casa que foi dos meus pais e minha e depois só dos meus pais, voltará a ser
minha.
Creio que
desta vez será só minha, o que pode representar um problema porque as paredes
não estão habituadas e eu não sei como reagirão,
As paredes
são temperamentais, algumas podem ser mesmo muito.
Mas o que
mais temo são os sons que teimam em ficar.
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