quarta-feira, 11 de junho de 2025

Do lamento

 

O quanto eu lamento

Não, não foi pelas vezes passeadas de mãos entrelaçadas,

Nem pelas idiotices que, do riso, acabavam num longo beijo

Não foi pelos dias de sol gastos a apreciar, deleitados, os mútuos olhos

Também não foi pelas vezes que se usou a palavra: amo-te

Decerto não foi pelas carícias, que não faltaram, nem pelos abraços prolongados

O que eu lamento foram os silêncios não partilhados

As dores da incerteza,

O egoísmo da posse

Quando já tudo se havia perdido.

E o lamento torna-se abominação

Quando a palavra se revela, repetidamente, oca

Desprovida de sentido e usada em desespero.

Desespero,

É reter a mágoa que se avoluma, que queima, que teima em não morrer.

E assim lamento,

lamento o desespero de quem usa a dita palavra, num contexto egoísta,

Num remate inconsciente de não perder a posse do que já havia perdido.

E retenho a mágoa.