O quanto eu lamento
Não, não foi pelas vezes
passeadas de mãos entrelaçadas,
Nem pelas idiotices que,
do riso, acabavam num longo beijo
Não foi pelos dias de sol
gastos a apreciar, deleitados, os mútuos olhos
Também não foi pelas
vezes que se usou a palavra: amo-te
Decerto não foi pelas
carícias, que não faltaram, nem pelos abraços prolongados
O que eu lamento foram os
silêncios não partilhados
As dores da incerteza,
O egoísmo da posse
Quando já tudo se havia
perdido.
E o lamento torna-se
abominação
Quando a palavra se
revela, repetidamente, oca
Desprovida de sentido e
usada em desespero.
Desespero,
É reter a mágoa que se
avoluma, que queima, que teima em não morrer.
E assim lamento,
lamento o desespero de
quem usa a dita palavra, num contexto egoísta,
Num remate inconsciente
de não perder a posse do que já havia perdido.
E retenho a mágoa.