sábado, 12 de setembro de 2015

Ondas de calor tatuadas




Encostei-me, fechei os olhos e, quieto, fiquei a ouvir aquela música envolvente.
A melodia suave e a voz arrastada, quase forçada a cantar, trouxe-me a tua imagem.
O calor da tarde beijava-me a face e o teu rosto, chapéu-de-sol providencial, aportou recordações simpáticas, mornas e envolventes. As recordações juntam-se em novelos e desfiam-se, inevitavelmente, quando começamos a usá-las. São fios de tempo, retratos de destinos partilhados, por vezes sofridas, outras sorridentes. Memórias são orgasmos neurónicos.
Vieram em ondas, seguindo a corrente de ar quente de Agosto à sombra do teu rosto amornando a saudade. Sobre os telhados que ao longe desfilavam para mim, um farrapo de água percorrendo o horizonte.
Uma tranquila tarde de verão, um silêncio dourado, uma música envolvente e boas memórias por companhia. Não durou muito; repentinamente assaltou-me um pensamento:

A paixão que não é cuidada descamba inevitavelmente em amor
(Inconscientemente senti um desconforto)
Amor rima com dor
Caminho dos fascínios tolhidos
Dos encontros perdidos
De humores assassinados
De sofrimentos guardados
De sentimentos de posse exacerbados
Incontrolados

É o princípio do ódio
Rapidamente, interrompi a música, mandei passear as memórias, mudei a cadeira de posição e fiquei a ver passar os comboios.

Nem sempre é o que parece

e nem sempre parece o que é

2 comentários:

  1. Um texto comovente que não me deixou indiferente. há muito que uma lágrima não me saía do coração.
    Há afectos que após tatuados na pela da alma, permanecem intactos para sempre.
    Tenho para mim que este é um deles :)

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  2. http://teia-de-folhas.blogspot.pt/2015/09/tempo-suspenso.html
    Um registo diferente, mas de conteúdo semelhante.

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