sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Dos uivos de um predador

 

Falo dos desequilíbrios persistentes

Do ter tudo e nada ter

E porque não apenas ter o suficiente?

Falo dos encontros marcados,

A ansiedade provocada: será ou não realizado?

E ainda gostará?

E se não gostar que farei?

Mas é claro que vai gostar e ainda desejar

E riremos e tolices faremos

E bem abraçados pela doce noite seguiremos

Brincando às escondidas com as nossas sombras

Da antecipação infantil de algo bom que vem

Do sorriso feliz do realizado

E do desencanto profundo do encontro falhado

Da dor, da mágoa de não ser desejado

E da sombra solitária que se esconde da sua vergonha

Ao voltar sozinho para casa.

Dessa dor no peito, da vontade de a coçar

De a arranhar e de a arrancar

(Exponha-se o peito que não o sentimento)

Por desespero, por não ser amado ou não saber amar

Falo bem alto dos sonhos não realizados

Tão alto que apenas eu oiço

Tão sentido que enlouqueço

Falo do horizonte de fogo

Espalhando brasas pelo espelho de água

E escuto a respiração

E guardo estes momentos

Que me fazem sentir vivo

Que não verdadeiramente sentido

E grito bem alto: Porquê?

E só quero estar num penhasco bem alto

Bem próximo do céu

E numa metamorfose poética abrir as asas

E vestir a minha pele de negro

E sem hesitar lançar-me do penhasco

E desaparecer

Que a solidão é a única companheira que está sempre presente




2 comentários:

  1. É uma reflexão sincera sobre o que sentimos quando queremos ser vistos e compreendidos mas, ao mesmo tempo, nos escondemos.

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  2. Eis um desabafo intrincado num emaranhado de sentimentos contraditórios. Porquê complicar o que é simples?

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