Dezembro instalou-se.
Chegou suavemente, como
só o mês de dezembro o sabe fazer. Só os calendários o traem, só as folhas das
árvores o sentem e caem como partículas de chuva, submissas à inevitabilidade
do tempo final.
As aves migratórias já
partiram; eu e as aves migratórias, companheiros de destino, velhos amigos de
viagem, comprometidos pelo silêncio, como só os velhos amigos o sabem fazer.
Os velhos amigos, tal
como os amantes, não precisam falar para se expressar. Conversam em longos
silêncios, com entoações vivas de surdez e afecto. Escutam na ausência e nunca
se despedem. Os velhos amigos, tal como os verdadeiros amantes, nunca se despedem,
dizem até breve no seu código de olhares. E o compromisso é tal, o entendimento
é tanto e o gosto de se sentirem é tamanho, que nem na morte se despedem.
Os velhos, tal como os
amantes, são aves migratórias que desistiram do seu destino, mas não dos seus
silêncios comunicativos.
Dezembro instalou-se em
mim e é terrível na dualidade que me inspira; lindo e triste, o princípio do
fim, o prenúncio de algo a renascer. Os velhos querem acreditar que há sempre
algo por renascer. Os amantes estão em constante renascimento e a mim, ave migratória
que renegou, restam-me as memórias de viagem, os sons dos outros e o silêncio
frio das folhas mortas nas calçadas.
Um texto que faz do silêncio uma linguagem e do tempo um lugar habitável. Dezembro não é apenas um mês, mas um estado de alma: onde a perda e a promessa coexistem, onde o fim não nega o renascimento, apenas o adia.
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