quarta-feira, 11 de junho de 2025

Do lamento

 

O quanto eu lamento

Não, não foi pelas vezes passeadas de mãos entrelaçadas,

Nem pelas idiotices que, do riso, acabavam num longo beijo

Não foi pelos dias de sol gastos a apreciar, deleitados, os mútuos olhos

Também não foi pelas vezes que se usou a palavra: amo-te

Decerto não foi pelas carícias, que não faltaram, nem pelos abraços prolongados

O que eu lamento foram os silêncios não partilhados

As dores da incerteza,

O egoísmo da posse

Quando já tudo se havia perdido.

E o lamento torna-se abominação

Quando a palavra se revela, repetidamente, oca

Desprovida de sentido e usada em desespero.

Desespero,

É reter a mágoa que se avoluma, que queima, que teima em não morrer.

E assim lamento,

lamento o desespero de quem usa a dita palavra, num contexto egoísta,

Num remate inconsciente de não perder a posse do que já havia perdido.

E retenho a mágoa.



1 comentário:

  1. Não lamentes o sonho nem a espera do que não foi e podia ter sido.
    O silêncio nada mais é que uma armadura de protecção contra emoções intempestivas e palavras mal atiradas no calor da ausência de um sentimento maior.
    O sentimento maior vive na saudade de afectos genuínos, e não em palavras vãs e ocas, onde as promessas são o que são, promessas que não resistem ao tempo, à distância e ao silêncio consciente e premeditado.
    Mas sem essa consciência, não estamos perante o Amor. Estamos perante uma potencial conquista ou uma vaidade, de cuja substância, não resulta dor, desespero ou frustração. Simplesmente, não há nada. O Vazio consegue maior protagonismo, até porque a Estórias de Amor Incondicionais entre pares, permanecem imortais no seu Abismo.

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